Malhação de Judas ou Queima de Judas é uma tradição vigente em diversas comunidades católicas e ortodoxas que foi introduzida na América Latina pelos espanhóis e portugueses. É também realizada em diversos outros países, sempre no Sábado de Aleluia, simbolizando a morte de Judas Iscariotes.
Em Água Clara, assim como no Brasil, a tradição anda esquecida já faz vários anos. Ou seja, já faz muito tempo que a pratica não é exercida. Na madrugada de Sexta-feira Santa para Sábado de Aleluia, também há a tradição de roubar galinha.
O Fatos Regionais procurou Dolsion Bastos, o Tiquinho, para falar sobre tal prática em Água Clara. Ele jura que nunca roubou galinha, mas que malhar o Judas era o seu forte e da sua turma. “Na época, nós moleques, na faixa etária de 13 a 15 anos, juntávamos todos os Judas e levávamos para o campo de futebol, pendurava nas traves dos gols e chegava o pau até desmontar”, relata Tiquinho. Depois, segundo ele, arrastava os bonecos, fazia um monte e colocava fogo. Quantos ao roubo de galinhas, diz que quem fazia isso era os mais adultos.
Entre os que malhavam os Judas com ele, segundo revelou, estão seu irmão Dilson, os irmãos Donizete e Admir Lino, Messias Feitosa, Deca Feitosa, Vicente, João Cabeça, Dudu; Rubão, Rui e Paulinho, da Dona Calina do Hotel; Finado Sabará; Finado Cezão, Nego Morato, Mouraci, Waldir Leitoa, Gabriel Domingues, Osavane Domingues, Gilmar Domingues, Troca Tiro, e outros que ele não se lembra.
Saudades
Tiquinho lamenta que o interesse pela tradição foi se perdendo e acredita que há mais de 40 anos não se faz mais tal brincadeira. Ele se recorda com saudade do tempo em que juntava os amigos nas ruas. “Tenho muitas saudades. Há 40 anos não tinha quase nada de diversão; era futebol no campo e baile aos sábados e mais nada, mas na verdade mesmo tenho saudades do tempo que não tinha drogas e que havia mais respeito entre as pessoas”, diz. Diz também que tinha mais amor e consideração para com o próximo. “Mas tudo passa, como dizia minha mãe”, conforma-se.
Ainda sobre Judas, Tiquinho diz que tanto os adultos quanto os jovens faziam os bonecos e os colocava na porta das casas e quanto o morador abria a porta de manhã, ele caia no colo da pessoa.
Ladrões de galinhas
Quanto ao roubo de galinhas, diz que o finado Gabriel Cezão, o Nego Norato, o Afrânio e o Dalton seu irmão eram os campeões. Inclusive, conta a história em esses três foram roubar galinha do seu pai Fernando Bastos, o Fernandinho. Conforme relata, Seu Fernandinho ouviu o barulho e deu a volta na casa. Os “larápios” correram, mas deram de cara com seu pai que levou a espingarda no peito de seu irmão, que gritou: “não atira pai, sou eu seu filho Dalton!” “Mas você, meu filho. Roubando nossas galinhas, toma vergonha rapaz!”, teria respondido seu Fernandinho. “Foi um susto só, mas depois virou piada na cidade”, finaliza Tiquinho.