Aquino Corrêa*
Não, não se trata de falso alarmismo, ou mero exercício de futurologia: é mais do provável que o Brasil terá uma recessão econômica em 2024 (tecnicamente, uma economia entra em recessão após três trimestres seguidos de recuo do PIB).
Isto porque, após décadas de crescimento acelerado da sua produção agrícola, o país terá um decréscimo na safra de grãos 2023/24. Para que tal recessão não ocorra, seria necessário que os demais setores da economia (secundário e terciário) tivessem um crescimento expressivo. Ocorre que, nos últimos anos (ou décadas), o que tem puxado o PIB brasileiro para cima é, justamente, o setor primário.
Claro que, tal previsão, ainda passa longe dos gabinetes refrigerados dos órgãos oficiais e, também, das previsões dos economistas “oficialescos”. Mas, para quem vive a realidade do “chão” do mercado, a quebra da safra atual é dada como certa.
Obviamente, como a safra de soja ainda se encontra em diferentes estágios, nas diversas regiões do país, é impossível estimar com exatidão o tamanho das perdas. A CONAB, até janeiro/24, trabalhava com uma previsão de aumento de 700 mil toneladas (155,3 milhões/t) em relação à safra passada. Já para a Aprosoja (associação do setor em Mato Grosso), este número não passará de 135 milhões/t – ou 20 milhões/t a menos (-12,9%), em relação à previsão oficial.
Vale dizer que, qualquer que seja o volume de tais perdas, estas se devem exclusivamente às oscilações climáticas a partir do segundo semestre de 2023, em função do “El Niño”, fenômeno climático que aquece as águas do Pacífico e altera o regime de chuvas no Hemisfério Sul.
Mesmo assim, será curioso saber como o governo lulopetista irá lidar com esta iminente recessão econômica. Como é de praxe, não estão descartados planos mirabolantes para “salvar” o agronegócio, como aconteceu recentemente com o setor industrial.
Pura perda de tempo – e de recursos públicos: assim como o agronegócio deu um salto impressionante, nas últimas décadas, sem NUNCA depender de governos, agora o setor também irá contabilizar as perdas, “sacudir a poeira” e, quando setembro vier, partir para o plantio de uma nova safra – quiçá, livre das oscilações climáticas ora enfrentadas.
O que poderá, em tese, mitigar os prejuízos dos agricultores será uma eventual elevação do preço da soja no mercado internacional, quando os números da produção brasileira (maior produtor mundial dessa oleaginosa) estiverem consolidados. Seria um consolo – embora isso traga, em seu bojo, um outro problema para a economia: com a elevação do preço da soja, poderá haver um aumento da inflação este ano.
Enfim, é aguardar o fim da safra atual, no meio deste ano, para saber o tamanho do “tombo” do aré então pujante agronegócio brasileiro.
*PÓS-GRADUADO EM ADMINISTRAÇÃO, JORNALISTA, ESCRITOR E AUDITOR FISCAL APOSENTADO