Enquanto boa parte dos moradores de Água Clara não se separa da cuia e da garrafa com água gelada para tomar o seu tereré, a dona Isméria Marcelino, 75 anos, não está nem aí para a erva que virou febre em todo o Mato Grosso do Sul, tradição que foi levada para o Brasil inteiro através das novelas Pantanal e Terra e Paixão. O que ela gosta, mesmo, é de um bom chimarrão. Embora não corra nenhuma gota de sangue gaúcho em suas veias, ela, que nasceu na região do atual Distrito de São Domingos, aprendeu a tomar a erva mate aos 9 anos de idade, com os pais. Desde então, nunca mais abandonou o habito. Vale lembrar, que ela é tempo em que a cuia era feita de cabaça ou de guampa (chifre bovino) e água era acondicionada em uma chaleira, que permanecia aquecida sobre a chapa do fogão à lenha ou na fogueira, em época de frio. Bem diferente das garrafas e cuias customizadas dos dias de hoje.
A primeira “cuiada”, ela toma às 3 horas da manhã. Durante o dia, não tem hora certa pra chupar a bomba. Às 8h, porém, já se aproxima novamente da garrafa com água fervente. Pra falar a verdade, só desgruda dos apetrechos quando vai dormir. “Enquanto não pingar a última gota [de água quente da garrafa], eu não paro”, conta. Para se ter uma ideia da sua relação com o chimarrão, quando falava à nossa reportagem, às 14h4 desta quinta-feira (16/11), os termômetros indicavam 40 graus de temperatura, com sensação de 42.
Assim costumam dar sabores ao tereré (limão, menta e outras especiarias), a nossa entrevistada também gosta de incluir alguns adicionais à sua bebida preferida, como algumas raízes, a saber: algodãozinho e a carobinha. E garante que faz bem à saúde.
A dona Isméria até que já tentou aderir ao tereré, mas acabou não dando certo. Diz que começou a passar mal e teve de ir a uma farmácia, onde descobriu que a pressão arterial havia despencado. Desde então, não se arriscou mais a tomar erva gelada. “Se um ‘trem’ fizer mal pra mim uma vez, duas ele não pega”, avisou.